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Ainda faz sentido falar em silly season?

Senior Account Manager

Teresa Garcia

Ainda faz sentido falar em silly season?

Ainda faz sentido falar em silly season?

Chega o verão e com ele a silly season: uma expressão curiosa que há décadas marca o calendário mediático como sinónimo de um certo vazio noticioso. É a altura do ano em que os parlamentos encerram, os líderes políticos vão de férias, os tribunais abrandam, e os jornalistas, com menos temas “sérios” em mãos, recorrem a histórias leves, insólitas ou até excêntricas para preencher páginas e noticiários. Mas, em pleno século XXI, num ciclo informativo permanente, fará sentido falar em silly season?

A expressão teve origem no jornalismo britânico do século XIX, quando o verão representava uma espécie de deserto informativo. Sem escândalos políticos, crises financeiras ou conflitos armados a dominar as manchetes, os jornais publicavam tudo o que pudesse prender a atenção do público.

Hoje, contudo, essa pausa parece ter desaparecido. Vivemos numa era em que o fluxo noticioso é constante, alimentado pelas redes sociais, pelos sites informativos e pela luta incessante por cliques. A urgência de publicar antes dos outros tornou-se regra, mesmo quando não há nada de verdadeiramente urgente. O resultado? Uma espécie de silly season permanente, onde o banal convive com o trágico, e o absurdo ocupa frequentemente mais espaço do que o essencial. Reportagens sobre as ondas de calor, enchentes nas praias, fenómenos virais ou escândalos menores que ganham grande destaque. Mas a diferença é que este tipo de conteúdo já não se limita a uma estação do ano. A notícia leve, a curiosidade irrelevante ou o fait-divers surgem ao longo de todo o ano, muitas vezes camuflados de jornalismo sério.

Neste contexto, as agências de comunicação podem desempenhar um papel relevante para contrariar a banalização noticiosa do verão, propondo histórias com substância, reportagens mais alargadas, dando visibilidade a causas relevantes e promovendo iniciativas culturais ou científicas, que normalmente ficam fora da agenda mediática. Dar destaque a projetos de investigação científica com impacto direto na vida das pessoas, estudos sobre alterações climáticas ou saúde pública, por exemplo. Também podem criar campanhas de sensibilização com utilidade prática, sobre o uso consciente da água ou segurança nas praias, aproveitando a atenção mais relaxada do público para lançar mensagens mais informativas. O verão pode, e deve, ser também um tempo de boas histórias, que aprofundam temas que merecem reflexão, mesmo num registo mais leve.

Há quem veja neste período de verão um certo encanto, como que uma pausa necessária, uma leveza provisória num mundo sobrecarregado de tragédias e crises. As revistas e jornais ganham nova vida nas esplanadas e nas praias, num gesto quase nostálgico que devolve ao ato de ler um ritmo mais calmo e atento, distante da pressa do digital.

No fim de contas, a verdadeira questão talvez não seja se ainda existe silly season, mas sim se sabemos reconhecê-la. Num tempo em que a credibilidade do jornalismo está em risco, a fronteira entre o que é “ligeiro” e o que é “leviano” nunca foi tão ténue.

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